domingo, 26 de junho de 2011

Que nobre função desempenham as armaduras, protegendo-nos dos usuais riscos cotidianos, não?
Ah!  Como brilham, como cintilam seus adornos metálicos, como amedronta a todos sua inegável tenacidade! Pesadas, rígidas, feitas para destruírem e para durarem.
É por isso que nós, como soldados, vestimos armaduras.
Desde tenros anos, carregamos uma. Como esperado, ela evita que meios externos nos machuquem, escondendo nossos corpos. Seus desníveis e farpas, porém, ferem a pele emplastrada de sangue e suor.
É uma sorte que ninguém o veja  — seria uma vergonha expor tamanha fragilidade. É por isso que vestimos armaduras. Vestimos armaduras pois, como armaduras, almejamos ser rijos, fortes, frios, mesmo que seja impossível o ser. Vestimos armaduras pois em meio a tantas batalhas, por ínfimas que sejam, alguém disse que são elas que prometem proteção. E nós acreditamos.
Do fundo de sua anatomia metálica, por entre as frestas que nos restam, espiamos o movimento lá fora. Encolhidos, nus e sedentos. Aceitamos, esmagados pelo peso das diversas camadas que conferem beleza e durabilidade à sua carcaça, as escaras que nos causa. Mais do que nos defender, armaduras nos escondem —  dos outros e de nós. Não contestamos ou questionamos seu uso. Usamos nossas ilusórias armaduras pois damos à vida a ilusória ideia de ser uma guerra.
É por isso que nós, como soldados, não vivemos. Marchamos.

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